"O conhecimento das imagens, de sua origem, suas leis é uma das chaves de nosso tempo. [...] É o meio também de julgar o passado com olhos novos e pedir-lhes esclarecimentos condizentes com nossas preocupações presentes, refazendo uma vez mais a história à nossa medida, como é o direito e dever de cada geração." [Pierre Francastel]
Berry Gordy deu um novo rumo à black music nos Estados Unidos. Após abrir a gravadora Tamla (de R&B), em janeiro de 1959, ele fundou a "Motown" em dezembro do mesmo ano. A gravadora recebeu esse nome inspirado no apelido de Detroit: "Motor City Town".
Berry Gordy
Fachada do Edifício Hitsville, que serviu como sede da Motown
O sonho de Gordy era lançar artistas da black music que fossem aceitos por brancos e negros e chegassem às paradas de sucesso. Isso aconteceu em 1961, quando a banda The Marvelettes, cujo baterista era ninguém menos do que Marvin Gaye, alcançou o primeiro lugar com a música "Please, Mr. Postman."
Além de Gaye, a Motown revelou grandes nomes do soul nos anos 1960, como Stevie Wonder, The Temptations e The Four Tops; além dos "girls groups", como Martha Reeves & The Vandellas, The Supremes e Gladys Night & The Pips.
Gordy com um um disco das "The Supremes" em frente à sede da Motown.
O início da década de 1960 foi marcado pela volta de Elvis do exército. Quase que imediatamente, Colonel Tom Parker, seu empresário, começou uma campanha publicitária e marcou uma gravação para que o mundo inteiro soubesse que o "Rei do Rock" havia voltado. Logo, duas músicas já foram para as paradas de sucesso: "Stuck on You" e "Fame and Fortune", revelando um estilo menos agressivo e indo de encontro aos desejos das novas gerações.
Elvis Presley - Stuck on you
Após o lançamento do álbum "Elvis is back", em abril de 1960, Elvis estava definitivamente de volta. Gravou mais dois sucessos ("It's now or never" e "Are you lonesome tonight?") e lançou o filme "Saudades de Um Pracinha" ("G.I. Blues"), tornando-se um artista "para toda a família" e caindo definitivamente nas graças de todas as idades, pelo mundo inteiro.
Apesar de sua carreira cinematográfica não ter sido um grande sucesso, o que ninguém pode negar é que Elvis Presley foi o cantor que popularizou o rock mundialmente e consagrou-se como um dos maiores fenômenos da história da música.
Elvis Presley foi a descoberta perfeita de Sam Philips, pois o rock precisava de um ídolo maior do que os existentes até então. Bill Halley, Carl Perkins e Buddy Holly, por exemplo, tinham boas músicas e faziam sucesso, mas era preciso alguém que fosse além daquilo, principalmente no visual. Elvis "The Pelvis" veio exatamente para preencher essa lacuna. O apelido deve-se a seu jeito de dançar, sempre mexendo os quadris de maneira sensual, o que causou muita polêmica e até censura.
Elvis dançando, cantando... Para o delírio da plateia feminina!
Colonel Tom Parker era quem dirigia todos os negócios do Rei do Rock. Ainda nos anos 1950, o empresário conseguiu um contrato com Hollywood e Elvis passou a fazer cinema. Apesar de não ser um bom ator e seus filmes nem sempre serem bem recebidos pela crítica, sua presença nas telas ajudava a impulsionar a carreira. O domínio de Parker era tão grande que muitos atribuem a ele uma série de falahas na carreira do cantor, como o fato de ele nun ca ter se apresentado fora dos estados Unidos e no Hawaii.
Elvis e Parker (de chapéu preto) no set de filmagem de "King Creole".
No início de 1958, Elvis serviu o Exército norte-americano e ficou dois anos fora de cena. Apesar da sua ausência dos palcos, a RCA já tinha gravado material suficiente para suprir esse espaço de tempo; e mesmo com o surgimento de novos cantores de sucesso, como Paul Anka e Neil Sedaka, quando Elvis regressou, em 1960, seu sucesso e sua popularidade eram ainda maiores.
Elvis servindo o Exército dos EUA
O Rei do Rock, portanto, não leva esse título à toa. Com canções que atravessam gerações, estilo e carisma inigualáveis, Elvis Presley tornou-se um mito para música mundial e milhões de fãs apaixonados pela sua história.
As primeiras gravações de rock no Brasil foram feitas por cantores populares, como Nora Ney, heleninha Silveira e Agostinho dos Santos e Cauby Peixoto; que chegou até a gravar nos Estados Unidos usando outros nomes artísticos como Ron Coby e Coby Dijon. Em 1957, ele lançou a música "Rock and Roll em Copacabana".
Cauby Peixoto no início da carreira
O primeiro registro na história do rock and roll brasileiro pode ser a gravação de "Enrolando o rock", de Betinho & Seu Conjunto, tema do filme "Absolutamente Certo", de Anselmo Duarte, lançado em 1957. O cantor era um verdadeiro rocker, pois já tinha as melhores guitarras e era apaixonado pelo rock and roll de Bill Halley.
No ano seguinte apareceram dois futuros ídolos para os jovens da época: Tony e Celly Campelo, que gravaram seu primeiro compacto em 1958. Atraindo a atenção da mídia, logo passaram a comandar um programa na TV Record, chamado primeiramente de "Celly e Tony em Hi-Fi" e, depois de "Crush em Hi-Fi com Celly e Tony Campelo".
Celly e Tony Campelo
Depois do sucesso deles, começaram a aparecer outros artistas brasileiros gravando rock. Destacaram-se, nessa década, Carlos Gonzaga, George Freedman, Demétrius, The Jordans, The Jet Blacks, The Clevers e Renato e seus Blue Caps.
A guitarra elétrica se tornou o símbolo do rock'nroll desde os anos 1950, representada por marcas como Gibson e Fender - cujo modelo "Fender Stratocaster" se tornou um ícone da década.
Buddy Holly e sua Fender Stratocaster Sunburst de dois tons
Em 1958, o guitarrista Link Wray - pioneiro no uso de efeitos, como distorção e feedback - fez sucesso com a instrumental "Rumble". Era um fato inédito, pois foi a primeira música instrumental de guitarra a entrar nas paradas.
Duas manias nasceram na década de 1950: o cinema drive-in, que já existia desde 1933, mas se consolidou na metade dos anos 1950. Era uma maneira cômoda de uma família assistir a um filme e, ao mesmo tempo, fazer seu pedido de lanche no carro. Porém, com o crescimento da popularidade das TVs nos lares estadunidenses, passou a ser também um costume dos jovens, que aproveitavam para namorar com mais intimidade.
Drive-in em Long Island
Muitos filmes tinham sessões especiais de estreias nos drive-ins. Um dos que teve grande repercussão foi "E Deus criou a mulher", com Brigitte Bardot. Os carros com a placa das medidas em polegadas de busto, cintura e quadril da diva (36-20-36) tinham entrada grátis.
A febre do hambúrguer da rede McDonald's também aconteceu nesses anos, quando o público recebia os pedidos confortavelmente no carro. A era dos descartáveis começava, eliminando o trabalho de lavar a louça.
Ray Kroc, sócio e depois o grande dono do império McDonald's
Enquanto os ingleses bebiam na fonte dos americanos para criar o skiffle, em Nova York, no Greenwich Village, acontecia um revival do folk.
Um dos nomes mais renomados desse gênero, Woody Guthrie - que compôs clássicos como "This land is your land" - escolheu o Village como sua residência desde 1941, onde formou vários grupos. A cena dos bares começava a ficar famosa em ruas como a Bleecker Street.
Woody Guthrie
Grupos como The Tarriers e o Kingston Trio começaram a despontar nas paradas de sucesso no fim dos anos 1950. Todos tinham um posicionamento político muito forte em suas letras e defendiam os direitos civis. Entre os novos nomes desse circuito folk estavam Tom Paxton, Joan Baez e um rapaz vindo de Minnesota chamado Bob Dylan.
Joan Baez e Bob Dylan
Bob Dylan tocando no Greenwich Village
Fonte: Almanaque do Rock, 2008, de Kid Vinil.
Com o sucesso do filme Sementes da Violência, em 1956, sua música tema "Rock Around the Clock" enlouquecendo as plateias e causando até quebra-quebra por onde passava, o rock começou a criar seus ídolos também na Inglaterra, que, até então, estava numa onda de jazz, blues e big bands. O primeiro grupo britânico a gravar o gênero foi Tony Crombie and His Rockets, bem no estillo de Bill Haley.
Tony Crombie and His Rockets
Mas os ingleses queriam ter o seu Elvis... Surgiu então um ex-marinheiro chamado Tommy Steele, que costumava viajar para os Estados Unidos e via as apresentações do Rei para aprender seu estilo. Após deixar, a Marinha, ele começou a se apresentar nos cafés ingleses e foi contratado pela Decca.
Tommy Steele
Outros tentaram seguir os passos do Rei, e entre os mais bem sucedidos estão Billy Fury e Cliff Richard.
Cliff Richard
Billy Fury
Um estilo que apareceu na Inglaterra paralelamente ao rock and roll foi o skiffle, divulgado pelo cantor e guitarrista Lonnie Donnegan. Ele teve sucesso com a música "Rock Island Line", originalmente gravada por Leadbelly. Um característica do skiffle foi o surgimento de uma série de bandas de jovens ingleses que usavam instrumentos tradicionais da época, como a tábua de esfregar roupa, para fazer a percussão característica. Improvisavam um baixo com caixas de chá e completavam a formação com dois guitarristas.
Por sua vez, a França também teve o seu ídolo do rock and roll nos anos 1950, o cantor Johnny Hallyday.
O bebop que apareceu com o fim das big bands, foi outra raiz do rock and roll. Era um tipo de jazz misturado ao blues feito pelos jovens negros, mas não era dançante como o som das swing bands. Nomes como o do saxofonista Charlie Parker e do trompetista Dizzy Gillespie destacaram-se nessa onda.
Já a chamada beat generation foi uma grande influência literária nos anos 1950.
William Burroughs, em 1953, publicou Junkie, certamente o mais chocante dos livros beats. Em 1955, Allen Ginsberg, em São Francisco, criou um grande impacto ao apresentar o poema "Howl" (Uivo). Um ano depois publicou Uivo e Outros Poemas, que, ao lado do clássico On the road, escrito por Jack Kerouac em 1957, tonaram-se livros cultuados da literatura beat.
Totalmente diferentes da geração adolescente do rock and roll, os beats ouviam jazz e bebop, e eram adeptos de novas experiências espirituais, como o zen-budismo e outras religiões orientais.
William Burroughs e Jack Kerouac
O R&B já tinha sua fama e seus fãs antes da geração rock'n'roll, porém muitos dos principais cantores de Rhythm and Blues destacaram-se também cantando rock nas rádios e lançando vários discos de sucesso.
Entre eles, pode-se citar Fats Domino. Vindo de Nova Orleans, ele foi o primeiro cantor negro de R&B a furar o cerco das paradas de rock com "Ain't that a Shame" em 1955.
Um mês depois foi a vez de Chuck Berry com "Maybellene" e a gravação de outros clássicos que fizeram de Chuck uma das personalidades mais influentes do rock.
No final de 1955, Little Richard surgiu no cenário musical com "Tutti Frutti" e emplacou várias outr as faixas de um R&B mais selvagem do que a linha melódica de Domino. Mas, a partir daí, esse R&B já era conhecido entre os jovens como rock and roll, e Little Richard foi considerado aquele que representou a conexão entre os dois gêneros.
Além disso, Richard e Domino venderam muitos discos e apareceram em muitos filmes, fazendo com que o Rhythm and Blues deixasse de ser uma música de gueto e se tornasse parte essencial do fenômeno rock and roll. Jovens brancos e negros consumiam suas músicas, o que serviu até mesmo como um manifesto revolucionário contra o racismo.